lundi 20 avril 2009

Rogério Paulo

Talvez uma das mais apaixonantes recordações da minha vida, o meu encontro com Rogério Paulo!

Tudo começou em Mafra. Trabalhava eu no Café Estrela. Tinha eu talvez 18 anos...

Um belo cadete vinha tomar um café ou um refresco quase todos os dias ao Café.
Ele impressionou-me pela sua beleza e simpatia que irradiava. Ambos gostávamos de conversar e trocar impressões sobre diversos temas.


Rogério Paulo admirava-me pelo meu geito para o desenho:

No Jardim do Cerco ele pedia-me para eu recitar alguns dos meus poemas para ver qual de nós o recitaria melhor. Era uma grande aventura todas estas nossas fantasias e competições!

Demos grandes passeios pelo Jardim do Cerco e as nossas conversas eram sempre Teatro!

Uma bela manhã ele entra no Café, muito excitado, dizendo-me que ia a Lisboa assinar um contracto com o Arthur Duarte para o filme "A Garça e a Serpente", com a Teresa Casal.

Que ia deixar a tropa e a Unviersidade e entregar-se todo ao Teatro e ao Cinema!

Depois dum bom Café e um grande abraço, ele despede-se a correr, para ir apanhar a camioneta do Sardinha que o levaria até Lisboa, para começar a ser o que ele mais queria ser: actor!


Ao sair da porta, voltou-se para mim e exclamou:

-Rogério, ainda um dia nos haveremos de encontrar ambos sobre um palco em Lisboa!

Deixei-o partir, convencido de que isso nunca aconteceria!

Anos mais tarde sigo para Lisboa para trabalhar na Tentadora, ali na Silva Carvalho, a Campo de Ourique.
Tempos mais tarde ainda, como o patrão, o senhor Luis Ferreira abriu um Snack-Bar para os lados do Areeiro, fui para o Tique-Taque, ali na avenida de Roma.

Aí comecei a publicar poemas no Diário Popular, na "Antologia de Revelações", vários, todos obtendo boas críticas escrever para a Revista Turismo


a fazer figurações na com o Nuno Fradique.

O Nuno achou que eu tinha boas idéias para a encenação dos seus "Programa de Variedades", todas as quartas-feiras, para poetisar as imagens, e assim comecei a trabalhar como seu assitente.

Várias vezes entrei em curtos filmes. Conheci alguns actores, como a Helga Liné

e o Pedro Pinheiro.

Foi com o Pedro que ambos começámos uma carreira como actores em vários filmes curtos para a acabada de nascer televisão portuguesa!

Paz à sua alma!

Um dia Arthur Duarte propõe-me um pequeno papel no seu filme "Encontro com a Vida"

Tinha que estar uma manhã, muito cedo, numa garagem por detrás do Diário de Notícias

e eu lá estaria, sem falta!

Nessa manhã Arthur Duarte explica-me o que estava previsto ser feito. Que eu tinha que ir encher de gasolina o depósito dum carro e que, depois, o actor principal do filme me chamaria e me perguntaria: "Você conhece aquele senhor".
Deu-me uma folha de papel com o curto diálogo e depois fomos tomar o pequeno almoço num Café ali perto.
Quando voltámos a essa garagem, filmamou-se a tal curta cena. Quando o tal actor me chamou e me pergunta: "conhece aquele senhor"...

Santo Deus! Era o Rogério Paulo!

Fizemos a cena. Nenhum de nós se desmanchou. Mas quando o Arthur Duarte gritou:

- Corta!

Caímos nos braços um do outro!

Então ele diz-me:

- Rogério. Tás a ver que eu tinha razão?

Respondi-lhe que aquilo ali não era nenhum palco!
E ele respondeu-me que o palco ficaria para mais tarde!

Depois seguimos para os Estúdios do Lumiar

para fazermos a dobragem do diálogo Eu acertei às primeiras essa breve dobragem. O Rogério Paulo atrapalhou-se e teve de repetir três vezes!

O Arthur Duarte vocifera:

- É pá! Então este novato acerta à primeira cacetada, e tu, um actor profissional, tás-me a fazer a vida negra?!

O Rogério Paulo atira:

- Arthur, este novato ainda te vai surpreender com o seu talento!
Um dia vais-lhe dar um grande papel num dos teus filmes!O que realmente aconteceu!

Mais tarde, quando já estava no Kibbutz Beit Hashita, e a Dona Alice, a patroa da Pensão onde me encontrava hospedado, ali na Sacadura Cabral, me enviava o meu correio, uma dessas cartas era do Arthur Duarte, a propor-me um papel num filme que ele ia realizar no Brasil. Não sei que título, não sei mesmo se esse filme chegou a ser realizado.

Tempos mais tarde, Rogério Paulo estava a a trabalhar no Monumental, com o Vasco Morgado e Laura Alves. Encontrávamo-nos casualmente no Café Monte Carlo para um café e dois dedos de conversa. Uma dessas vezes, na prsença do Paulo Renato, ele propõe-me eu ir recitar três dos meus poemas numa "Matiné de Poesia", um Domingo, no Teatro Monumental.

Eram vários poetas a participarem.

Como lhe tinha contado acerca do meu poema "Cais do Sodré", ele pede-me que diga esse poema e mais dois à minha escolha. Escolhi "Grito Calado" e "Uma Noite Um Filho", poemas que sabia tê-lo impressionado. Desses três poemas que decorei, apenas me lembro do "Cais do Sodré", que muitos, muitos anos mais tarde, iria ser interpretado - telefonicamente - pela grande Carmen Dolores!

Um dos meus grandes sonhos de adolescente - num programa de rádio, em Mafra, quando do lançamento do meu livro de poemas "Vagas"!

O grande problema foi que eu habitava então na Sacadura Cabral e, nesse Domingo muito especial, vou a pé, de casa até ao Saldanha

a repetir os meus três poemas, mas o medo era tanto, de pela primeira vez subir a um palco e enfrentar um vasto público, que me borrei pelas pernas abaixo, e tive de voltar a casa para tratar do assunto, mas a Dona Alice não tinha ainda engomado a minha roupa, e disse-me que tivesse juizo e me deixasse de fantasias!

Aí foi a morte do meu grande sonho de fazer Teatro com o Rogério Paulo!


Um dos nossos grandes sonhos dos seus tempos de tropa como cadete, em MAFRA!

Algumas semanas depois parti para Israel e abandonei talvez uma grande carreira como actor. Mas fui para Israel para correr mundo e viver uma vida repleta de fantásticas aventuras! Uma vida que muitos gostariam de ter vivido!

Andei e ando lá por fora há quase 50 anos, e cada vez que eu ia a Lisboa, ia tomar um copo com ele ao Dona Maria II e falar de teatro, projectos futuros, dificuldades financeiras, autores a serem representados, e invejas e intrigas internas nesse Teatro, que ele então dirigia...

Ele dizia-me que eu tinha feito uma grande burrice de ter deixado Portugal, que

- "hoje podias ser um grande actor!"

Respondi-lhe que vivi a vida que eu mais queria ter vivido: Viajar! Conhecer outros países, outras línguas, outras culturas, outros Teatros!

Depois estive muito tempo sem o ver em Lisboa e, um dia, em Paris, soube da sua morte!

Uma raiva feroz subiu por mim acima!
Não estava certo! Ele era ainda tão jovem e tinha tanto talento!

Credulamente, cerrei os olhos e sussurrei-lhe:

- Rogério! Meu querido Rogério!

Um destes dias ainda nos iremos encontar lá em cima das núvens, a fazermos o nosso teatro para que todos os pecadores que nos venham do Purgatório, só para nos verem e ouvirem! E os Anjos também lá estarão!!!

E isso ninguém nos vai poder impedir !!!




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