samedi 14 novembre 2009

A voz inconfundível de Amália

Entrevista a Amália Rodrigues, por Rogério do Carmo

lundi 20 juillet 2009

Algumas pinturas da Ana Oliveira
















Ana Oliveira


A minha Oliveirinha da Serra!
Uma alma grande que aceita as coisas e as pessoas tal como elas são!
Muito talento para a pintura, com o qual ela preenche as poucas horas livres da sua atribulada vida!
Aqui têm o seu auto-retrato!
Para ela
um beijo tão grande e tão quente
como o Sol no Zenite!
Galdério

samedi 18 juillet 2009

O absurdo duma frustração


Coisas imcompreensíveis que podem acontecer quando um homem se sente injustmente rejeitado.
Quando algo de muito importante na sua vida estava previsto acontecer e que nunca aconteceu! Frustrado por se sentir traído pelo seu melhor amigo, injustamente verteu a sua cólera sobre outro alguém completamente irresponsável do que se tinha passado.
Dias depois, apercebendo-se da injustiça praticada, humildemente pede perdão a essa bonita rapariga que não tinha culpa alguma das minhas misérias pessoais.
No dia em que foi perdoado apecebeu-se também que nesse mesmo apenas um dia, num parque verdejante, ele recuperou um velho amigo que igualmente estava inocente, e ganhou um novo amigo que ele guardará para todo o sempre, mesmo se a separação final e definitiva um dia os venha a separar de novo.
Até lá, que essa velha amizade e essa outra reconquistada o amparem na sua imensa solidão, afastado do espaço a que tanto quer, e aos amigos que por lá deambulam.
Uns, verdadeiros amigos, outros falsos, mas a vida é assim feita e um dia todos compreenderão que o Mal e o Bem vivem lado a lado, e que nem sempre o Mal é vencedor!

mardi 14 juillet 2009

O meu Bikini


Gostaria de vos contar a história deste meu Bikini!
Tudo começou em Londres!
Eu e o Pat vivíamos ali em Chalk Farm, na Ainger Road, e um dia decidimos ir fazer férias a Espanha. Era a primeira vez que íamos fazer juntos uma viagem ao estrangeiro, na frescura da nossa juventude.

Fomos a uma Agência de Viagens ali perto da B.B.C., onde o Pat trabalhava, e comprámos duas semanas em Torremolinos. O empregado era simpatiquísimo. Chamava-se Peter! Quando ele nos entrega os dois bilhetes, com um sorriso muito especial, deseja-me Boas Férias. Perguntei-lhe se ele queria alguma lembrança de Torremolinos e a sua resposta foi:
- Yes! Yourself!

Mas esta história contá-la-ei no meu livro de memórias, "Tudo em Pratos Limpos"!
Chegada a data de partida, organizámos as malas. De repente apercebo-me de que não tinha fato de banho, pois que em Londres ninguém precisa de tal apetrecho. Basta um guarda-chuva! Como as lojas já estavam todas fechadas, não podia comprar um à última da hora, e o avião descolava no outro dia de manhã muito cedo. Para me desenrascar resolvi agarrar numa T-shirt que tinha, branca, com riscas azuis, que estava cheia de buracos, da qual eu tinha feito um esfregão de cozinha, agarro numa tesoura, corto a T-Shirt, faço-lhe uma baínhas, ponho uns elásticos, provo, e pronto. Estava na ponta da unha!

Claro que eu podia ter comprado um fato de banho em Torremolinos quando lá chegasse, mas eu sempre tive a mania de me desenrascar sozinho e fazer coisas que muito poucos fazem.
Chegádos a Torremolinos depara-se-nos um hotel muito moderno, quase de luxo. Ficámos radiantes! Instalámo-nos e, como a piscina do hotel era mesmo por debaixo da janela do nosso quarto, fomos inaugurar o meu bikini. Imediatamente o meu bikini começou a ser notado. Era olhado por uns com algum espanto, e por outros talvez com desejos de ter um igual para uso próprio ou sabia Deus que mais.

Passámos duas semanas de inesquecíveis férias. As nossas primeiras férias no estrageiro!
Todos os dias passávamos umas horas na piscina a bronzear e a fazer amigos. Uns deles foram uma senhora britânica que fazia as suas férias longe do inevitável nevoeiro londrino, com duas das suas filhas. Eram muito simpáticas e demos grandes voltas por Málaga e tivemos interessantes longas discussões a puxar para o intelectual e politicamente correcto. Houveram muitos Martinis tomados antes de jantar, ao pôr do sol, na esplanada da piscina.

Chegado o dia do regresso a casa, tínhamos de estar já com malas prontas frente a recepção do hotel, para apanharmos um autocarro que nos viria buscar para nos levar ao Aeroporto. O autocarro estava previsto para as três da tarde. Enquanto aguardávamos a chegada do autocarro - como tivémos de devolver as chaves dos quartos ao meio-dia em ponto - todos aproveitaram essas três horas para fazerem compras nos bazares do hotel para terem prendas a darem aos amigos ao chegarem de volta às suas casas. Pensei comprar um bonito cinzeiro de pé, em cobre, que estavam espalhados por toda a parte pelo hall do hotel. Fui à recepção e perguntei onde poderia eu comprar tal bonito cinzeiro como recordação da nossa estadia no hotel. O recepcionista respondeu-me que não estavam à venda, que eram propriedade privativa do hotel.

Desiludido, como não tinha muitos cobres de sobra dos nossos muitos Martinis, decidi, em vez de estar ali feito parvo a olhar para o boneco, fui à piscina e, como tinha o meu bikini vestido sob as calças, fui ao vestiário da piscina e despi-me conservando sobre o meu corpo o meu famoso bikini T-Shirt esburacada.
Por volta das duas e meia da tarde saio da piscina, entro no vestiário, tomo um duche, e visto-me. Como o bikini estava molhado enfiei as calças mesmo sem cuecas, coisa que muito frequentemente fazia no meu dia-a-dia em Londres.

De volta ao hall fui sentar-me na mesa onde o Pat e a tal senhora e as suas duas filhas aguardavam o autocarro. Sentei-me e pus o meu bikini todo molhado num daqueles grandes cinzeiros de cobre, de pé alto. Para meu espanto, essa senhora pede licença e agarra no meu bikini, enrola-o no seu lenço e mete-o na sua bolsa. Pergunto-lhe para que raio queria ela o meu bikini? Como recordação? Não! Respondeu-me ela. É para mostrar o seu bikini à minha outra filha que não veio connosco, pois que se eu não lhe mostrasse o seu bikini, ela nunca me acreditaria quando eu lhe contasse que tinha conhecido em Torremolinos um rapaz que se banhava na piscina vestindo apenas uma coisa tão minúscula, pouco mais do que uma folha de hera!

Quando o autocarro chegou, começaram todos a agarrar nas malas para embarcarem. Quando peguei na minha, o recepcionista vem ao meu encontro para se despedir de mim e, entregando-me uma pequena caixa de cartão, diz-me:
- Isto é uma recordação do hotel, para você levar para casa. Boa viagem!
Depois de todas aquelas fastidiosas burocracias de Aeroportos, apanhámos o avião. Mal o avião descolou, tive curiosidade de abrir aquela caixa de cartão que me tinha sido dada ao deixar o hotel, como recordação das férias. Não ousei. Sabia Deus o que ela esconderia! Pu-la na prateleira e jurei-me que mal chegasse a casa, a primeira coisa que faria, antes mesmo de abrir as malas, seria de abrir aquela misteriosa caixa de cartão.
O que aconteceu!

Mal fechei a porta, pouso a minha mala no chão, abro essa intrigante caixa de cartão e, santo Deus! Que surpresa!
Era o meu tão desejado cinzeiro de cobre de pé alto do hotel onde tínhamos passado duas maravilhosas semanas de férias!

jeudi 2 juillet 2009

Frémito

No claustro das sombras ogivais
Minhas mãos procuravam cegamente
O calor das tuas formas sensuais
Róseos botões abertos entumecidos
A sulcarem a brancura do teu peito
Desabrochar de libidinosas bacanais
Revelação da tua intimidade jardim
Dos teus mais recônditos segredos
Pétalas de veludo e de jasmim
A queimarem a maciesa dos meus dedos
A endoidarem loucamente meus sentidos!

Teus olhos incêndios por extinguir
Fogo incandescente fogo crematório
Onde pecador me queria redimir
Fogo onde busco punição o meu castigo
Nesse teu corpo todo aceso em purgatório
Na rubra labereda de um ritual antigo!

De encontro àquela árvore secular
Na noite que lentamente nos fugia
Sentia teu corpo o meu aprisionar!
Teu corpo contra o meu crescia crescia
Parecendo querer meu segredo penetrar!
E o meu num frémito todo se reabria!

Tua voz grunhidos em selva renascidos
Acariciava o vibrar dos meus timpanos
Emprenhave os óvulos dos meus ouvidos!
Minhas pálpebras descidas para sentir
O afago do teu bafo lufada que me lambia!
Minhas narinas se dilatavam a capturar
O odor do teu hálito do teu corpo em fusão!
Minhas mãos ávidas no teu corpo a rastejar
Em busca da tua insígnia do teu brasão!

Meu corpo faminto presa fácil de teu cio
Fragrância do meu desejo feito ardor
Boca mordiscando teu corpo em desvario
Viagem ao fundo do inferno bigornas que sustentam
Descidas respresas barragens que rebentam
Longos canais por mim nunca navegados!
Irrompe o fogoso garanhão latejante devastador
Lingua de fogo na fogueira do pavio
Fronteiras abertas passaportes carimbados!

Virei-me para ver a paisagem que tu vias
Frugal roçar de folhas nesse amanhecer
Saliva escorrendo espada em riste rosa em matagal
Bandarilha em toiro tresmalhado quase virgem!
Um gemido misto de dor e de gozo canibais!
Teu arado rasgando – meu partrimónio me invadias!
Pudores viris sucumbindo em súbita vertigem
Louco desfraldar dos instintos ancestrais!

Um derradeiro estertor um urro triunfal!
Ou uivo dolorido de besta ferida em agonia?
Rio caudaloso jorrando em vulcânico lamaçal
Tromba recolhendo aos contrafundos da sua via
Archote reduzido a cinzas apagadas num jornal
Alvorocer sem neblinas sem o canto da cotovia
Passos se afastando sem um aceno na aurora boreal!

Cântaro que a água me trouxe a água me levou
Água sempre crescente que nenhuma sede me matou!



Rogério do Carmo
Villejuif, 19/6/1986

jeudi 25 juin 2009

Abusos de PODER


Desde muito pequeno que sempre tive problemas de miopia. Comecei a usar óculos quando eu tinha apenas 13/14 anos. Para mim foi um insulto pois que tinha os olhos mais bonitos de Mafra! Mulheres e raparigas vinham ao Café Estrela, onde eu então trabalhava, comprarem bombons ou Pastéis de Feijão - por mim fabricados - só para verem os meus belos olhos verdes de então. Isto, afirmação da Fernanda e a Manóia, as mulheres que me embalaram quando eu tinha três anos, que depois, durante 67 anos, nunca mais nos vimos e que, após esses anos todos, eu reencontrei no Sobreiro, mesmo em frente da Casa da Brasileira, onde eu, 74 anos atrás, tinha nascido!
Já lá vão uns anos, em Paris, num dos mais famosos hospitais de oftalmologia do mundo, fizeram-me uma "refracção de miopia" ao meu olho esquerdo. Depois da intervenção ela pede-me para me repousar 20 minutos, na sala ao lado, sobre uma cama, para ela depois verificar como o meu olho tinha reagido. Durante esses 20 minutos, confortavelmente deitado nessa cama esterilizada, olhei em redor e vi, com grande espanto, que eu via como nunca tinha visto na vida! Olhava os cartazes espalhados pelas paredes e podia ler todas as letras, das maiores às mais minúsculas! Uma felicidade indescritível se apoderou de mim!
Quando ela veio verificar os resultados disse-me, muito contente consigo própria, que estava tudo bem, que os resultados eram óptimos! Que viesse dentro de dois dias para uma nova inspecção.
Saí do hospital radiante da minha sorte. O Pat conduziu-me no seu carro até casa, e eu podia ler todos os nomes das ruas por onde passávamos, coisa que ele, que vê muito bem, não conseguia! Senti-me como um contemplado por um dos mais fabulosos milagres que me podiam ter acontecido!
Durante um mês tive de ir ver o mesmo cirurgião para ela controlar a minha convalescença. Três visitas foram feitas e, segundo ela, estava tudo bem a 100%!
Na última vez que fui a esse "check-up", na sala de espera, a meu lado, estava sentado um rapaz encantador. Conversámos imenso, e eu confesso-lhe que a médica que me tinha feito essa intervenção era um amor de pessoa e uma grande profissional, que me tinha dado a vista! Ele concordou comigo, dizendo-me que ela era uma amiga sua, que ele a tinha vindo ver para lhe fazer uma pergunta acerca dos seus olhos e marcar uma consulta, e que ela lhe tinha dito que a solução para o seu caso seria uma refracção de miopia. Que esperasse na sala de espera, que ela faria essa intervenção nesse mesmo dia! Ele estava encantado com a proposta. Porém, quando, depois de 5 horas de espera eu fui chamado, essa médica me diz que nesse dia ela não tinha tempo para mim! Disse-lhe que tinha falado com jovem Grinberg, e que ele me tinha dito qe ia ser operado nessa mesma tarde, e que ele nem sequer tinha marcado consulta. Que ela não tinha o direito de me fazer esperar 5 horas e depois dar a minha vez a um amigo seu!
Ela diz-me que "chez-elle" ela fazia o que muito bem lhe apetecia! Retorqui que, "chez-elle" eu estava d acordo, mas que ela, ali no hospital, não estava "chez-elle", mas nas suas funções de profissional de oftalmologia, que ela não tinha o direito de dar a minha vez a um amigo pessoal seu! Ela embuchou e deu-me outra data para a semana seguinte.
Chegada essa data sou um dos primeiros a ser recebido. Ela verifica o meu olho esquerdo e declara que eu o meu olho precisava dum retoque, e deu-me outra data para esse sugerido retoque.
Um mês mais tarde venho para o retoque. Antes de descer ela fez-me assinar uma declaração onde estava escrito que eu aceitaria os resultados dessa intervenção, fossem eles quais fossem! Depois desse retoque que tinha sido feito por ela, desta vez discutindo com os seus assistentes acerca de um casamento onde ela tinha sido convidada, dos vestidos que fulana e beltrana tinham posto para esse evento, tudo pessoal do mesmo hospital. Imediatamente senti que ela estava a falar demais e pouco concentrada, mas fazia-lhe inteira confiança no seu profissionalismo e no Sermão de Hippocrate que ela, por sua vez, um dia tinha certamente assinado!
Acabado o relato acerca desse casamento Judaico, onde o Rabino tinha dito que eles iriam ser muito felizes e terem muitos meninos, ela "c'est fini" e pede-me para eu ir descansar 20 minutos no quarto ao lado, como da primeira vez.
Quando me deitei sobre essa mesma cama que me acolhera da outra vez, olho para todos esses mesmos cartazes espalhados pelas paredes, e não conseguia ler uma única palavra neles escritas! Entrei num pânico mortal!
Quando ela entrou no quarto para verificar os resultados da intervenção, antes mesmo de ela ter inspeccionado o meu olho acabado de ser retocado, digo-lhe:
-Madame, penso que desta vez as coisas não correram bem. Vejo ainda menos do que antes da primeira refracção que me fez e que quando saí do hospital via mosquitos pousados na Torre Eiffel, e que desta vez nem sequer conseguia ler os dísticos dos cartazes ali a dois metros de mim!
A sua resposta foi:
"Eu sei! Correu tudo mesmo muito bem!"
Dois dias depois tive de voltar às suas mãos assassinas, isto depois de ter contado o acontecido às recepcionistas, que achavam piada às minhas larachas! Não sei o que se passou, mas a verdade é que, enquanto a assassina pretendia verificar o meu olho, entra uma outra médica que lhe pede autorização de ser ela a verificar os resultados. Essa médica inspeccionou o meu olho durante uns minutos e depois vira-se para a outra e disse-lhe:
- Ameline, o problema com o olho esquerdo do senhor Carmo é que ele esteve demasiado tempo exposto ao lazer!"
Ela disse-lhe ia fazer um outro retoque e a outra médica retorquiu-lhe que ela sabia muito bem que agora mais nada se podia fazer, que era "irreversível"!
Furioso com a maldade dessa mulher que abusou do seu poder sobre um dos seus pacientes, a despeito do "Sermão de Hipócrates" voltei a casa com a morte na alma. Escrevi uma longa carta a queixar-me ao Director Geral desse hospital, e foi o seu assistente quem me respondeu. Recebi três cartas dele. Eu tinha pedido uma confrontação entre mim, essa cirurgião, o o responsável do seus Serviços, mas escreveram-me que o meu problema era muito complicado e que contactasse uma outra Instituição que se encarregava de uma indemnização. Meses depois essa Instituição envia-me uma carta a dizer que eu não tinha nenhuns direitos a nenhuma indemnização!
Enviei cartas expondo que eu tinha sido vítima de um abuso de poder de uma mulher rancorosa a todos os jornais franceses e a todos os Ministérios possíveis e imaginários, e não obtive uma única resposta fosse de quem fosse!
Desesperado, envio a mesma carta a todas os canais de televisão, e apenas um me telefonou a perguntar-me se eu tinha assinado alguma declaração imposta pelo cirurgião. Respondi que sim, que não tinha tido qualquer outra alternativa!
A resposta de senhor da televisão foi:
- Désolé, on peux rien fare pour vous!
Moralidade da história, fiquei quase cego do olho esquerdo para o resto da minha vida e essa senhora sem moralidade alguma, continua as suas funções nesse mesmo hospital sem ser punida,e à vontadinha para outras próximas vítimas!
O médico que todos os anos me fazia o "check-up" já lá 30 anos, quando o fui ver recusou-se a receber-me. Esse médico ao qual eu um dia disse que "tínhamos envelhecido juntos", o qual, sempre que,por acaso, passava por mim na rua se lembrava do meu nome e me dizia até à próxima!
A minha única pergunta é a seguinte:
Será que no país considerado o mais democrático do mundo, possa consentir que essa Democracia se limita a pessoas perigosas para a Humanidade? E para as vítimas não há Democracia?

mardi 23 juin 2009


Era uma Vez um Poeta que abriu suas Mágicas Asas e ingloriamente voou em Busca do ALFA!


Inesperados Grandes Temporais o expulsaram do Universo!


Milhares de Eternidades passadas, voltou de novo a brilhar no Firmamento.


Um Deus do Olimpo magnanimamente lhe abriu os braços!
Um belo Anjo Azul o sacudiu das suas cinzas, e Fénix saiu das Trevas!
Pássaros Negros, anichados na Mediocridade, invejosos das suas Asas em Chama, impiedosamente o depenaram, para que ele não voasse mais alto do que a Pequenez da outra Passarada!


Agora
nem todos os Deuses do Olimpo
nem todos os Anjos do Céu
o poderão recuperar.
Do Esquecimento ressurgiste
Vil Mãos arrancaram tuas penas
nas Águas Profundas da Maldade
Invisível Coral serás apenas
até ao fim da Eternidade!
Amen.

jeudi 18 juin 2009

Sachne


Foi neste pequeno Paraíso no Emek Beit Shean que eu vivi os mais bonitos Sábados da minha passagem por esse país que tanto amo!

mercredi 27 mai 2009

Pedras da minha rua...

Gosto de olhar a minha rua
Quando a lua lá no alto me sorri
Porque encontro na minha rua
Deserta toda nua
Os passos que lá perdi
À luz de lua
Passos que lá deixei
Desperdiçados
Passos que me levaram à bruma
À frieza
Passos desorientados
Repassados de tristeza.

Vejo nas pedras da minha rua
Que tanto amei
Sob as estrelas na noite escura
Bocas! bocas que não beijei
E minha vida de amargura!
E cá do alto ao parapeito
Eu queria lá nas pedras
O corpo estatelar
Porque sinto dentro do meu peito
Um coração a soluçar
E porque não quero
Não quero mais amar!!!

mardi 26 mai 2009

O que foi Amália na minha vida...

Amália? Quem foi Amália na minha vida?

Ao longo dos anos, cresci ao som da sua inigualável Voz!

A descoberta da Voz...


Em 1940 - tinha eu 5 anos - vivia na rua do Arco do Carvalhão em Lisboa. Costumava ir sentar-me na borda do chafariz, ali mesmo à beirinha do arco, para ouvir a água a chapinhar ne ver aqueles homens apassarados a construírem a ponte Duarte Pacheco. Recordo o dia em que os vi aplicar a lage com o zero, da data da sua inauguração em 1940!Uma manhã, sentadinho à beira do meu chafariz, ouvi uma Voz que me vinha da telefonia duma taberna logo ali por detrás. Essa voz imediatamente despertou em mim uma particular atenção. Era como se ela me viesse do céu, uma dádiva de Deus. Estava atento a ouvir essa Voz que me seguiria todo ao longo da minha longa vida quando, de repente, ouço uma voz rouca de homem vociferando:-"Calem a boca, caraças, deixem-me ouvir a Amália!"Isto foi em 1940, Amália ainda não tinha gravado discos. Penso que cantava em directo da Emissora Nacional ou de alguma fita gravada. Uma coisa era certa: Já em 1940, em Lisboa, ela era já a Amália! Só alguns anos mais tarde vim a descobrir que ela se chamava Amália Rodrigues!A descoberta de Amália Rodrigues num filme...Em 1947, tinha eu 12 anos, fui ver o seu primeiro filme, Capas Negras. Fiquei imediatamente apaixonado por ela! A sua linda cara, a sua linda voz!

Na telefonia ouvia-se constantemente a sua Voz e os seus lindos fados e nos Discos Pedidos ouvia-se sempre Amália."Capas Negras"- com Amália Rodrigues e Alberto Ribeir
Anos mais tarde, trabalhava eu na Ericeira, no Café CHICO quando, inesperadamente, Amália entra com os seus guitarristas e sentam-se a uma mesa. Era uma das minhas mesas!
Fui a correr perguntar que queriam tomar!
Pediram-me quatro cervejas.Ela acomodava a sua vasta negra cabeleira, caindo-lhe pelas costas abaixoE aqueles olhos como noite de luar aquelas suas mãos muito brancas e finas E aquela boca muito vermelhaFiquei louco!

Quando saíram, acompanhei-os até à porta e quando ela passava as mulheres benziam-se, chamando-lhe Nossa Senhora do Fado. Depois vim a saber que eles estavam acampados na Foz do Lizandro, ali mesmo a dois passos.
Quando levantei a mesa peguei no copo donde Amália tinha bebido. No rebordo desse copo ficou a marca do baton dos seus lábios. Esse copo guardei-o religiosamente.
Acartei-o ao longo da minha vida, até esse dia da travessia do Canal da Mancha, quando o mar revolto enguliu a minha lancheira - o meu tesouro - onde guardava tantas coisas que me eram tão preciosas, sobretudo aquele copo!O tempo foi passando... e eu sempre a ouvir a Amália. Ia até à Rua do Carmo ouvi-la numa loja de discos onde a ouviamos constantemente. Eu morava então na Rua da Prata, que não era nada longe.

Em 1960 parti para Israel e depois de quase dois anos numa escola de hotelaria, fui fazer um estágio de três meses no King David Hotel em Jerusalem e depois mais três meses no Hotel Ginton, em Tvéria, ali à beira do lago Kineret. Após estes dois estágios recebi o meu diploma e comecei a minha carreira como profissional.

Mesmo em Eilat a voz de Amália não se esquecia...


O meu primeiro emprego foi no Queen of Sheeba Hotel em Eilat, esse maravilhoso Paraíso à beira do Mar Vermelho. Isto passou-se em 1963, quando John Kennedy foi assassinado.
Eu compartilhava um apartamento no Sing-Sing com um colega de trabalho que eu muito amava. Um dia, quando fui ao barbeiro cortar o cabelo, passei por uma loja de discos e vi um Long-Play da Amália na vitrina. Entrei e comprei o disco. Depois realizei que não tinha gira discos para o tocar e comprei também o dito.
Chegado a casa liguei o gira-discos e pus o disco a tocar e... milagre! Eu estava a ouvir a minha Voz ali em Eilat, a milhares de quilómetros de Lisboa. Ouvi esse disco algumas cinco vezes de seguida. Depois, todos os dias, Amália cantava só para mim. Só para mim? Erro! Também cantava para os vizinhos! Uma noite uma vizinha veio bater-me à porta e disse:
-“Adora a Amália Rodrigues, mas não todos os dias, o dia inteiro! É demais!”

Um magnífico concerto de Amália em Tel Aviv que marcou Rogério...



Mais tarde, em Tel Aviv, apanhei o autocarro para ir para casa e, senrtado ao pé da janela, vi um grande cartaz muito colorido colado numa parede da cidade que rezava asim:

“Amália Rodrigues – três concertos – Sábado – Domingo e Segunda, às 21 horas, no Teatro Mograbi”

Saltei do autocarro e fui a correr comprar um bilhete para Domingo, pois que estava livre nessa noite.
Chegado esse tão desejado domingo, vesti-me melhor do que o habitual para ir ao Teatro Mograbi. Mal me sentei comecei logo a ouvir as guitarras portuguesas e a minha alma encheu-se dum saudosista prazer infinito.
Momentos depois as luzes apagam-se. O pano sobe... e... lá estavam os três guitarristas que começaram com uma bela desgarrada. Quando acabaram o público aplaudiu e quando uma voz anuncia: “Rabotai u’gvirotai” – “Ladies and Gentlemen” - Senhoras e Senhores” – Amália Rodrigues!


Amália entra como uma raínha e a sala levantou-se para uma salva de palmas para a acolher. Fiquei espantado! Nem sequer sabia que a Amália já tinha estado várias vezes a cantar em Israel e que ela era já uma Deusa para esse público!
O tempo foi passando e depois fui vê-la em Jerusalem. Sempre o mesmo sucesso!

Anos mais tarde, Hella, uma amiga minha que tinha feito a escola hoteleira comigo - que trabalhava e morava então em Haifa - telefona-me para eu ir passar um fim de semana com ela. Cheguei lá Shabbat para passar uma noite e depois regressar a Tel Aviv no domingo.

Shabbat à noite, Hella põe a mesa e serve um dos seus bons jantares bem “kosher”.
Depois do jantar ela espreguiça-se, levanta-se, e diz:
-“Não me apetece mesmo nada ir lavar a loiça. Olha, vamos saír, vamos dar uma volta, está uma noite tão bonita!”
Todas as noites em Israel são bonitas... sempre um céu crivado de estrelas e a doce brisa que nos vem do mar...
Saímos e fomos a pé para, segundo a Hella, ir a uma esplanada tomar um bom café. O que fizémos.
Em frente dessa Esplanada havia um teatro e, sob os holofotes, um grande cartaz da Amália. Dei um grito e disse:
-“Raios! Vamos comprar bilhetes! Vamos ver a Amália... Conheces a Amália?”
-“Não – diz-me ela! Nem quero conhecer! De resto já está a lotação esgotada! Vamos mas para casa, estou estafada!”


Levantámo-nos para ir para casa e passámos em frente desse teatro. Parei para ver as fotos da Amália nas vitrinas. Ela empurra-me até à entrada e saca dois bilhetes da sua bolsa e diz-me:
- “Yélá, tipeche, kanesse!” = “Entra, estúpido”!


Claro que entrei. Caí-lhe nos braços e dei-lhe um grande beijo na face. Mal nos sentámos as luzes apagaram-se e o espectáculo começou: Guitarradas e logo a seguir Amália caminha como uma raínha para o centro do palco e diz: Shalom! E começa a cantar “Foi Deus”! A sala veio abaixo com aplauso!
Amália era continuamente aplaudida e, para meu grande espanto, Hella põe-se aos gritos:
-“Casa Portuguesa - Casa Portuguesa!”
Amália pensou que era uma portuguesa que reclamava essa cantiga e diz:
-“Para esta senhora, “Casa Portuguesa”! Hella dava pulos de contente e todas as cadeiras dessa fila estremeceram!




A vida de Rogério continuava.... a presença de Amália na sua vida era constante e inesquecível....


Certo dia, depois de dois julgamentos no Tribunal de Tel Aviv, por estar ilegal no país, por não ser judeu, ao fim do primeiro julgamento o juiz diz-me que eu tinha que deixar o país dentro de três meses. Levantei-me e disse ao juiz: “Nasci em Portugal por acaso, morrerei em Israel por minha própria decisão!” Esta frase fez os cabeçalhos de todos os jornais israelitas na manhã seguinte!
Quando do segundo julgamento, a mesma coisa aconteceu: “Senhor Carmo, tem três meses para deixar o país!” Novamente me levanto e grito: “Se o senhor Juiz quer que eu deixe Israel, terá de me agarrar pelos colarinhos, pôr-me em cima dum barco em Haifa, e eu voltarei a nado!” Novos cabeçalhos para todos os jornais!
Depois destes julgamentos, os meus patrões no Hotel Hod em Herzelia, começaram a ser também convocados pelas autoridades pelo facto de eles darem trabalho a um “goy”!

Deixei Israel e fui dar uma volta pela Europa. Viagem que terminou em Londres. Em Londres, depois de alguns problemas burocráticos, arranjei trabalho no Hilton Park Lane e instalei-me em Chalk Farm. Sempre que ia ao East End fazer compras –a velha mania de me aperaltar- comprava sempre discos da Amália mas, em 5 anos, ela nunca foi cantar a essa cidade.
Depois de Londres sigo para Paris e aí, novamente, uma amiga minha - a Raymonde - prega-me a mesma partida: levou-me até Chatelet para tomarmos um café no Sarah Bernahardt e, catrapus! No Theatre de la Ville, ali mesmo ao lado: Amália Rodrigues! Novamente lotação esgotada e Raymonde não tinha comprado bilhetes. Novamente sou empurrado até à entrada e os bilhetes aparecem como por milagre! Outra noite inesquecível. Amália estava linda e cantou como nunca tinha cantado. A sua voz estava mais grave e mais quente.


Depois vieram tempos difíceis e, à beira do suicídio, agarro em todos os meus poemas que tinha escrito ao longo da minha vida, folhas amarelecidas pelos anos e, para não deitar todos os meus poemas ao lixo, envio toda aquela papelada num grande envelope endereçado a: Amália Rodrigues – Rua de São Bento – Lisboa – Portugal. Os poemas lá seguiram e eu lá segui também a viver a minha vida cheia de frustrações.

Muitos anos mais tarde, em Lisboa, estava eu a ouvir a rádio quando Ary dos Santos começa a dizer um poema onde ele fala de muitos poetas seus contenporâneos e, entre todos esses poetas, ele diz “e ao Rogério que eu nunca disse”! Eu sabia lá quem era esse Rogério...

Depois, com alguns amigos, fundámos a Rádio Alfa de Paris e comecei a trabalhar o melhor que podia. Um dia vejo anunciado num jornal um espectáculo com Amália no Olympia. Telefono ao Olympia e eles dão-me a morada do hotel onde ela se costumava alojar.

Telefono a esse hotel e peço para falar com a Amália. Quem atendeu o telefone foi o seu empresário, Jean-Jacques Lafaye. Obtive uma entrevista com ela. A minha primeira entrevista com a minha idolatrada Amália!

Encho-me de coragem, agarro no meu gravador e vou com o fotógrafo entrevistar a Amália ao Hotel Eduardo VII na avenida da Ópera.



Esperámos algum tempo... depois ela desceu ao hall e veio ao nosso encontro. Como sempre, estava linda!
O fotógrafo fez algumas fotos e eu gravei a entrevista e foi tudo!
Ela ia cantar ao Olympia e eu lá fui eu uma vez mais ao Olympia escutá-la.

Sempre que a Amália vinha cantar a Paris eu ia entrevistá-la.
Sempre em hoteis diferentes.
Pouco a pouco começámos uma pequena amizade recíproca.
Um dia eu tinha o jornal “O Encontro” comigo e nesse jornal um poema meu:
-“O Aprendiz”. Mostrei-lhe. Ela pôs os áculos e leu em silêncio.
Depois diz-me: “Eu gostava de cantar isto... mas cortaria alguns versos”. Começou a ler em voz alta como ela o cantaria.
Meu Deus! O meu poema na sua voz era um hino à minha mãe. Parece que também à sua!
Antes de nos despedirmos ela pergunta: “Não me diga que você é o Rogério que, há anos, me enviou todos os seus poemas para minha casa?” Anuí!
Ela então conta-me que tinha lido tudo, que se identificava muito com o que eu escrevia, que tinha dado tudo ao Ary dos Santos para ele fazer conhecer o meu trabalho aos outros poetas de Lisboa. Daí talvez o tal “Rogério que eu nunca disse”...

Depois de ter editado o meu primeiro livro de poemas, Sombras, envio-lhe uma cópia para a Rua de São Bento. Quando ela volta a Paris para cantar, de novo a vou entrevistar e, como sempre, depois de ter acabado a gravação, ficávamos na conversa até mais tarde. Nessa tarde ela diz-me que tinha lido um fado que eu lhe tinha escrito, “O Inverno da Vida” e que gostaria de o cantar. Eu disse-lhe que se ela o fizesse eu seria o homem mais rico deste mundo.

Em outro dos seus espectáculos em Argenteuil, depois do espectáculo, ela vem ao hall para assinar autógrafos. Ela aproxima-se de mim, põe a sua linda mão no meu trémulo ombre e diz-me: “Rogério, escolhi dois dos seus poemas para o meu último disco”!
Tenho uma foto desse sublime momento da minha vida!

A última vez que entrevistei a Amália, quando ela voltou ao Olympia, durante a gravação, como eram os seus 50 anos de carreira, perguntei-lhe quando é que ela deixaria de cantar. A sua resposta foi:

-“Enquanto houver gente que venha aos espectáculos da Amália, eu também venho!”

Quando lhe perguntei quais os seus planos de futuro ela responde: “O Futuro não existe!” Então falemos do passado! “O Passado nunca existiu!” Então falemos do presente... “O Presente são apenas aqueles momentos que continuamente nos caem do céu e que mal chegam logo morrem!”

Quando a Amália nos deixou, chorei como uma criança que perdera o caminho numa imensa floresta povoada de sanguinários predadores, sem saber como encontrar a saída!
Na festa dos 20 nos da Alfa vou à Sala Vasco da Gama para celebrar com todos esse dia tão especial.
Nessa noite haviam fados e estava lá a cantar o Jorge Fernando, o homem que fez as músicas para o último disco da Amália. Perguntei-lhe se ela tinha gravado “O Aprendiz” e ele diz-me que lhe parecia que sim, mas não tinha a certeza. Como resposta ao Jorge disse-lhe que ela me tinha dito que ela gostaria de cantar o meu poema mas que, se calhar ela dizia isso a todos os poetas que lhe faziam poemas...

O Jorge Fernando põe uma das suas mãos sobre um dos meus ombros e declara:

-“Quando a Amália dizia que gostaria de cantar fosse o que fosse, ela sempre o fazia!”

******

Em 1989, depois de a ter entrevistado algumas vezes, fiz-lhe um poema que nunca lhe mostrei, pois temi um mutuo embraço, pois que era nitidamente uma declaração de amor! Claro que ela nunca o poderia cantar, mas, mesmo assim, bem gostaria de o ouvir cantado por fadista que dela gostasse.

A NORA
(à Amália)

Vai de roda vai de roda
vai de roda sem parar
e esta roda que mal roda
um dia hás-de cantar
como os fados que cantaste
e no peito me deixaste
o desejo de voltar
e este meu sem eira nem beira
perto da tua cabeceiura
um dia há-de estacar.

Sobre este mar encapelado
meu barquinho naufragadao
numa praia rebatida
como ao soar da partida
uma praia portuguesa
com pão e vinho sobre a mesa
um dia há-de atracar
e a todas as portas que bati
e os comboios que perdi
um dia hei-de cantar
nesta minha maneira de chorar.

E eu sentado na praia
a contar as ondas do mar
e naquelas noites de bruma
o mar em branca espuma
minhas lágrimas secará
e aquele meu sonho renegado
neste fado será cantado
e o mar comigo chorará.

E chora o mar e chora o vento
este meu último lamento
nessa voz que me foi na vida
a minha única guarida
chora voz essa voz só tua
que faça sol ou faça lua
se ainda lavo no rio
e na rua hei-de ficar
chora chora meu amor
antes que o mar se vá embora
chora chora
até que eu deixe de chorar
e este amor que não importa
não bata mais à tua porta
chora chora meu amor
que minha alma já está morta.

Vai de roda vai de roda
que esta roda já cansou
chora chora meu amor
que a minha nora já secou.

Rogério do Carmo
Paris, 1989

O silêncio dos ruídos ou o ruído dos sillêncios?

Deve ser tarde porque os ruídos cessaram,

os da casa, nenhuma luz no corredor, emudeceram os canos,

nem uma tábua da cama ao mudar de posição,

nem atrito dos lençóis entre as minhas pernas.

Lá fora,

os candeeiros iluminam a rua a baixa densidade

que não chegam a banhar reflexos nos vidros.

Deve ser tarde porque os cachorros desistem

imóveis nos tufos dos canteiros,

tão inertes que se confundem com as pedras.

Estou acordada entre pedras,

se calhar uma pedra eu também.

Na rua, à esquina,

intercepção de duas ruas que vão dar a lado nenhum,

espreita a lua.

Lavanta-se o vento

acariciando as folhas das árvores que gemem baixinho.

Parece que existem momentos

nos quais há um intervalo de doçura em mim,

levantam-me do chão, sinto um corpo a apertar-me,

dedos que me desarrumam a cara,

isto o espaço de um instante

e eu sozinha de novo.

Pergunto-me se teria sido um indício,

não cheiro nem som, contaram-me as árvores talvez,

ou tão somente o meu sonho desperto.

Sorrio, escapando essa parvoíce a que chamam ternura,

que me importa a ternura,

importa-me que os ruídos cessem,

os meus, os da casa, os dos cachorros

quando correm atribulados de desejo,

o mundo em resumo, permitam-me que envelheça em paz

e me sinta viva com os ruídos que identifico,

para serenamente manter-me longe

dos que julgam que nos perderam

e não nos ganharam nunca,

mantém-te longe e cala-te,

tanto quanto eu me mantenho longe e me calo.

Hoje não sei o que se passa comigo,

não há uma só veia minha que não estale,

esta no coração por exemplo,

daqui a nada rebenta de embolia.

Silêncio.

E os dentes na almofada a morder recordações,

sussurrar mistérios de baú no interior da alma,

visto que é no silêncio e quando menos se espera

que os baús se lamentem.

No Facho em Dezembro,

havia alturas em que o mar era sereno com uma paz de nuvens em cima

que ganas de beijar as pedras,

reencontra-las, senti-las na palma, aproxima-las da bochecha,

oferece-las àquele a quem gostava de dizer tantas coisas,

cacarejar de tolices, intimidade que por pudor escondi.

Descobri, no que respeita ao horizonte,

torna-se difícil distinguir o céu do mar,

não um risco como de costume,

o risco ausente de forma que impossível é saber

o sítio em que o céu se dobrava e começava a onda,

em que a espuma a franzir-se morria na areia brilhante,

sem marcas de pés ao retirar-se

e eu, não de braços afastados, pegados ao corpo numa atitude de entrega.

-Quem não se entrega, desmerece ter Alma.

A minha, não me sai do corpo,

protesta fechada e precisa de espaço para arrumar as desimportâncias da vida.

Salpico de azul o negro da noite,

rumo a um novo Despertar.


Anabela Silva Gonçalves




dimanche 24 mai 2009

Editor - procura-se!































































































































































Nunca compreenderei a razão pela qual de repente me veio esta necessidade imperiosa de escrever as minhas memórias, de fazer ressuscitar o meu Passado. Talvez esta certeza dum Futuro certamente já curto e sem grandes surpresas?

Uma cois a é certa: Um noite entrevistei José Jorge Letria quando da sua passagem por Paris para estar presente na Casa de Portugal, na Cidade Universitária de Paris, para o famoso "Prémio Internacional de Poesia Florbela Espanca", ao qual ele tinha concorrido. Prémio esse instaurado pela pintora Maria Eduarda Guimarães.

Para a Rádio Alfa de Paris, da qual sou um dos fundadores, fui entrevistá-lo a casa do autor-compositor-intérprete Fernando Marques, do qual era um grande amigo,que habitava ali para os lados da Torre Eiffel, onde ele se tinha alojado para a sua curta passagem por esta cidade.
Depois de terminada essa entrevista gravada, após todas as perguntas com as quais o bombardeei para satisfazer a minha curiosidade sobre o personagem,
foi ele que depois, talvez impressionado pela minha personalidade, que me crivou de perguntas sobre a minha pessoa, a minha vida, a minha carreira na rádio. Como sou um homem muito assumido e detesto andar mascarado da pessoa que eu gostaria de ter sido, decidi expor-me totalmente nu, mostrando-lhe a pessoa que eu realmente era! Falámos da minha infância, dos meus tempos de escola primária em Mafra, onde nem sequer acabei a terceira-classedos sonhos de miúdo de ser artista, pintor, poeta, escritor, bailarino, actor, de tudo o que eu quis ser na vida e que nunca realmente cheguei a ser. Apenas sobrevoei sobre certas oportunidades de ter chegado a realizar uma dessas muitas ambições minhas de adolescente!

Nunca cheguei a ser nada do que sonhara ser, contentei-me com a minha ambição de ser simplesmente feliz com o pouco que tantas portas fechadas me deixaram ser: Feliz!