Ontem aconteceu-me algo que me destruiu por dentro e por fora!
Tenho um gato que adoro! Ele chama-se Pipocas.
Tenho igualmente duas varandas onde os passarinhos vêm comer à minha mão...
Tenho também um medo terrível que o meu gato os apanhe. Por essa razão, as minhas janelas que dão para as varandas estão sempre fechadas ou apenas entreabertas para deixar passar o ar e não deixar deixar o gato apropriar-se dos meus passarinhos.
Mas, ontem...
Tive um passarinho lindo, confiante, que me veio comer à mão.
Ele era apenas um bebézinho em busca de pão e de carinho...
Horas mais tarde vejo o meu gato com esse passarinho adorável na sua boca!
Tentei reanimá-lo, mas ele já não pertencia ao bando onde aprendera a voar!
Não compreendo como tudo se passou...
Talvez o passarinho tenha entrado dentro de casa, em busca de mais pão e de mim...
Chorei como um puto que acabara de descobrir as traições da Natureza!
Um dia eu disse que
"A Vida e a Morte são tão naturais como o fechar os olhos para lavarmos a cara!"
Ontem lavei a minha cara com os olhos bem abertos!
Desta vez a minha cara foi lavada por um caudal de lágrimas bem escaldantes!
Agora detesto algo que tanto amei:
O Pipocas!
À noite, sob a chuva torrencial, fui enterrar o meu querido "bebézinho" num jardim aqui perto de onde moro...
Uma vez mais tive a minha cara lavada!
Mas desta vez pela chuva e as minhas lágrimas que a chuva também lavou.
Este imenso luto vai levar-me anos a ser feito.
Odeio a Natureza!
Nunca compreenderei porquê ela é assim tão imperfeita e cruel!
Durante cinco segundos gostaria de ser Deus e assim tudo mudar!
NATUREZA MORTA
O passarinho era leve
Leve macio e amarelo
Leve como um sonho
Sonho imobilizado
Na sombra da valeta.
A prostituta passa
Passa e insinua:
É barato é barato
Eu cedo barato!
E não vê um sonho leve
Leve macio e amarelo
Fechado numa noite sem lua
E míriades de estrelas extintas
Nos seus olhos vítreos cheios de azul
E séculos de poeira
Nas asas interceptadas.
Picado voo na paisagem silenciada
Milhas de asfalto
Nas unhas recurvas
Unhas soltas do galho
Que nada mais puderam reter
Senão a imagem da morte
Que ninguém consegue entender.
O passarinho está leve
Leve frio e amarelo
Seus olhos postos em mim
E eu fingindo não vê-lo!
Rogério do Carmo
Lisboa, 24/6/1957
Tens uma sensibilidade de anjo que pertence a outra dimensão...
RépondreSupprimerGato bonito que tens!
Beijo
E também gostaria de te ter a ti...
RépondreSupprimerAqui! Mais pertinho de mim...
Um beijo ainda maior do que esta minha sensibilidade muito maior do que a minha capacidade de albergar as minhas dores, os meus lutos demasiado constantes!
Rogério
Pá: deixa lá o gato comer os pássaros. Faz parte da sua natureza. Eu
RépondreSupprimergosto mais de pássaras. Quando as apanho, chamo-lhes um figo. Agora
tenho três... gatos, bem entendido: o velho Óscar, o Bonifácio, que
tem 9 meses e o Barack, que tem três meses e é preto, como o
americano. Sempre tive um fetiche com gatos pretos, fazem-me lembrar
conas novinhas. Depois, mando-te uma foto.
RD