jeudi 30 avril 2009

Livres como o vento!


Ontem aconteceu-me algo que me destruiu por dentro e por fora!

Tenho um gato que adoro! Ele chama-se Pipocas.

Tenho igualmente duas varandas onde os passarinhos vêm comer à minha mão...
Tenho também um medo terrível que o meu gato os apanhe. Por essa razão, as minhas janelas que dão para as varandas estão sempre fechadas ou apenas entreabertas para deixar passar o ar e não deixar deixar o gato apropriar-se dos meus passarinhos.

Mas, ontem...

Tive um passarinho lindo, confiante, que me veio comer à mão.
Ele era apenas um bebézinho em busca de pão e de carinho...



Horas mais tarde vejo o meu gato com esse passarinho adorável na sua boca!
Tentei reanimá-lo, mas ele já não pertencia ao bando onde aprendera a voar!

Não compreendo como tudo se passou...
Talvez o passarinho tenha entrado dentro de casa, em busca de mais pão e de mim...





Chorei como um puto que acabara de descobrir as traições da Natureza!

Um dia eu disse que

"A Vida e a Morte são tão naturais como o fechar os olhos para lavarmos a cara!"

Ontem lavei a minha cara com os olhos bem abertos!
Desta vez a minha cara foi lavada por um caudal de lágrimas bem escaldantes!

Agora detesto algo que tanto amei:

O Pipocas!

À noite, sob a chuva torrencial, fui enterrar o meu querido "bebézinho" num jardim aqui perto de onde moro...

Uma vez mais tive a minha cara lavada!
Mas desta vez pela chuva e as minhas lágrimas que a chuva também lavou.

Este imenso luto vai levar-me anos a ser feito.

Odeio a Natureza!
Nunca compreenderei porquê ela é assim tão imperfeita e cruel!

Durante cinco segundos gostaria de ser Deus e assim tudo mudar!


NATUREZA MORTA

O passarinho era leve

Leve macio e amarelo

Leve como um sonho

Sonho imobilizado

Na sombra da valeta.

A prostituta passa

Passa e insinua:

É barato é barato

Eu cedo barato!

E não vê um sonho leve

Leve macio e amarelo

Fechado numa noite sem lua

E míriades de estrelas extintas

Nos seus olhos vítreos cheios de azul

E séculos de poeira

Nas asas interceptadas.

Picado voo na paisagem silenciada

Milhas de asfalto

Nas unhas recurvas

Unhas soltas do galho

Que nada mais puderam reter

Senão a imagem da morte

Que ninguém consegue entender.

O passarinho está leve

Leve frio e amarelo

Seus olhos postos em mim

E eu fingindo não vê-lo!


Rogério do Carmo

Lisboa, 24/6/1957


3 commentaires:

  1. Tens uma sensibilidade de anjo que pertence a outra dimensão...
    Gato bonito que tens!

    Beijo

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  2. E também gostaria de te ter a ti...
    Aqui! Mais pertinho de mim...

    Um beijo ainda maior do que esta minha sensibilidade muito maior do que a minha capacidade de albergar as minhas dores, os meus lutos demasiado constantes!

    Rogério

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  3. Pá: deixa lá o gato comer os pássaros. Faz parte da sua natureza. Eu
    gosto mais de pássaras. Quando as apanho, chamo-lhes um figo. Agora
    tenho três... gatos, bem entendido: o velho Óscar, o Bonifácio, que
    tem 9 meses e o Barack, que tem três meses e é preto, como o
    americano. Sempre tive um fetiche com gatos pretos, fazem-me lembrar
    conas novinhas. Depois, mando-te uma foto.

    RD

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