jeudi 23 avril 2009
A Vida e a Morte
Dispendemos metade das nossas existências a termos medo da Vida e a outra metade a temermos a Morte !
Quando é que vivemos, afinal?
Recordo - quando era miúdo - em Mafra, não perceber muito bem para que tinha eu vindo a este mundo. Tinha medo do Futuro, medo da Vida, medo do absurdo de nascermos para apenas um dia deixarmos tudo o que fomos e fizemos, irremediavelmente para trás!
Tinha, sobretudo, medo de Mim! Medo da minha obsessão pelo Suicídio!
Como se a Morte fosse a única solução de todos os meus medos e ansiedades!
Por vezes cheguei a ter medo de ter Medo!
Ia à Basílica de Mafra ver todos aqueles apáticos Santos, em busca de respostas às minhas devastadoras perguntas, mas eles ficavam mudos e indiferentes, como aquele impassível e frio mármore de que foram esculpidos!
A minha adolescência foi um imensurável Martírio que certamente me fará ganhar o Céu!
Quando da morte do meu irmão Alberto - tinha ele 27 anos e eu 17 - no cemitério, quando abriram o seu caixão para lhe porem cal em cima, vi aquele belo e lívido rosto, sereno e gélido como um polar alvorecer, pelo qual tive um amor quase incestuoso. Mentalmente "jurei-lhe pela minha Vida", que iria viver por ele todos esses anos que acabavam de lhe serem roubados!
A partir desse dia decidi viver o mais intensamente possível todos esses anos que lhes foram impiedosamente negados, fazendo tudo o que inadvertidamente me passasse pela cabeça para ser feliz! Como felizes deveriam ter sido todos esses anos que o Alberto nunca chegou a viver!
Agora mesmo, ao escrever esta dissertação, continuo a pagar essa irredutível promessa!
Sempre que a Morte se acerca de mim, grito-lhe:
- Vai-te! Vai-te! Deixa-me em paz!
Tenho ainda uma grande e sagrada promessa não totalmente paga!
Estou ainda em dívida de muitas prestações
Agora já não tenho medo da Morte!
Penso por vezes que é Ela quem tem medo de Mim!
E quando Ela um dia, traiçoeiramente me agarrar, vou olhá-La bem nos olhos e clamar:
- Enfim! Que sejas bem vinda!
Enfim, vou poder reunir-me a todos aqueles que tanto amei e que me deixaram ainda neste mundo a cumprir a minha irresgatável promessa de viver por eles até ao fim!
Até ao fim, viver rindo, rindo, rindo da Vida e da Morte!
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Eu costumo pensar que tenho mais receio da vida do que da morte. É como se a morte fosse sinónimo de não sofrimento, de paz, de harmonia, como se tudo estivesse onde deveria estar... Por outro lado há estados de vida que nos testam, nos moldam o carácter. Quantas mais privações passamos, mais a nossa personalidade é testada ao limite.
RépondreSupprimerÉ comum arquitectarmos o nosso próprio suicídio, quando não podemos esticar mais a corda da coragem e a nossa existência nos parece um labirinto sem fim que nos asfixia... quando a dor chega ao limite. Mas é exactamente nesse extremo que provamos de que fibra somos feitos. Há que respirar fundo, olhar o mar e as estrelas e renascer de novo.
A vida foi-nos presenteada para que dela desfrutássemos em pleno. Os estados alternados de alegria e tristeza são naturais e há que saber lidar com isso.
Vamos viver sem amarras, sem preconceitos, de coração aberto, num abraço humano.
As tuas palavras fizeram-me derramar umas lágrimas, não tenho receio de o dizer.
Acima de tudo és humano Rogério. Um corpo com uma alma transparente do tamanho do mundo. É por isso que gosto de ti.
Beijo
23 avril 2009 11:48
Inteligentemente venci a obsessão do sucídio, decidi viver a minha vida plenamente, o que continuo a fazer, e isto até ao fim, pois que para tudo há um fim, mesmo para os sofrimentos mais íntimos!
RépondreSupprimerTe adoro!