vendredi 17 avril 2009

Reencontro Com a Infância


Gostaria de contar esta história incrível!

Nos meus tempos da Rua do Arco do Carvalhão, ali mesmo ao pé do Aqueduto das Águas Livres, viviam meus pais em casa da minha Tia Arminda, nessa casa que tinha sido o ninho de amor dos meus pais depois do casamento.


Eu tinha três anos...

Nós vivíamos no 53- 1° Esquerdo dessa rua. Ao lado viviam os nossos vizinhos, a Isabel Capitoa e Senhor Alfredo. Eles tinha três filhas: Era a Manóia, a mais nova e muito vivaça; a Alice, a mais bela das três, que tinha falecido muito jovem; e a Fernanda, a mais amorosa de todas.

Era ela, a Fernanda, que, à noitinha, me sentava no seu colo, me embalava e me adormecia. Era ela que me levava nos seus braços até ao meu quarto em casa da Tia Arminda, me despia e me aconchegava no meu leito.

Ela trabalhava no Jardim da Parada como guarda das retretes das Senhoras.


Eu adorava fugir de casa e ir a pé, do Aqueduto até ao Jardim da Parada, ali a Campo de Ourique, para brincar com outros miúdos. Ela tricotava o tempo todo, mas os seus olhos seguiam-me constantemente pelo jardim, a tomar conta de mim, que eu não fizesse asneiras.

Ela era o meu Anjo da Guarda.



Cresci com elas durante alguns anos, mas depois os meus pais voltaram para o Sobreiro e segui a minha vida como pude. Nunca mais as vi durante muitos anos.

Depois desses muitos anos, um dia pergunto ao meu irmão mais velho se ele sabia onde paravam a Manóia e a Fernanda. Ele diz-me lhe parecia que elas tinham casa no Sobreiro, que quando eu fosse ao Sobreiro rever a Casa da Brasileira, onde eu nascera, que entrasse na Farmácia mesmo ao lado, que perguntasse à Dra. Nelinha se ela sabia algo.

Fui ao Sobreiro e fui dar um beijo à Casa da Brasileira. Depois entrei nessa Farmácia e perguntei a uma senhora que me veio atender, se ela era a Dra. Nelinha, e se conhecia a Manóia e a Fernanda?

A Dra. Nelinha diz-me que sim, que as conhecia muito bem!

Quando lhe pergunto onde é que elas moravam, ela responde:

- Olhe! Ali mesmo em frente! É só atravessar a estrada!

Atravessei a estrada a correr - quase que fui atropelado!



Parei em frente de um portão de uma vila e vejo uma senhora a tratar do jardim.

Do portão pergunto-lhe se ela conhecia a Manóia e a Fernanda.

Ela responde:

-Eu sou a Manóia! Quem é o senhor?

Comecei a falar do Carvalhão, da Isabel Capitoa, da Tia Arminda...



A Manóia, muito intrigada, aproxima-se do portão, olha-me alguns instantes, e exclama:

- Olha o Rogério!

Caímos nos braços um do outro! Ela convida-me a entrar, para fazer uma surpresa à Fernanda, que estava na cozinha.

Quando a Fernanda me viu, olhou-me atentamente durante um minuto e, atónita e muito surpreendida, grita:

- Ai o Rogério!

Caímos uma vez mais nos braços um do outro! Ambos chorámos, muito agarrados, como se tivéssemos, repentinamente, voltado ao passado!



Depois duma refeição, fomos para a sala falar de coisas que nunca tinham sido verdadeiramente esquecidas!

Este dia, este reencontro, foi um dos mais felizes da minha vida. Eu tinha, subitamente reencontrado a minha infância!

Eu tinha então 74 anos e elas, a Manóia 81, e a Fernanda 85. Estivemos 66 anos sem sabermos nada uns dos outros!

Sentado no sofá, quase ao colo da Fernanda, tive vontade de novo lhe adormecer nos braços e que ela fosse outra vez deitar-me na minha caminha, na casa da Tia Arminda, no Carvalhão, e eu ter outra vez 3 anos...

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