dimanche 3 mai 2009
Jorge Chaminé
Jorge Chaminé, um homem belo, dotado dum grande talento como barítono, uma extraordinária voz aliada a uma presença cénica que retém o público sob o seu charme. Não só pela sua voz que nos possui, como a sua beleza física que nos fascina!
Como tudo aconteceu?
Simples! Então eu tinha na Rádio Alfa, em Paris, um programa que fazia muito sucesso
"Bica e Copo de Água"!
Esse programa foi falado numa revista francesa e, desde esse dia, comecei a receber imensos "dossiers de presse" de personalidades francesas.
Um deles foi do Jorge Chaminé!Um dia vou entrevistá-lo na sua residência em Paris.
Fui muito bem recebido. Tomámos um ligeiro pequeno almoço juntos na sua cozinha na cave e depois subimos ao rés-do-chão, uma grande sala com um enorme piano e uma larga janela para a rua, onde se viam as pessoas passarem apressadamente para além da transparência das cortinas...
Nesse dia gravei essa entrevista no meu gravador profissional que me tinha custado a pele do corpo todo, me tinha custado os olhos da cara!
De volta à Alfa, fiz uma montagem dessa entrevista, mas não tinha um único documento sonoro da sua fabulosa voz. Mesmo assim passei essa entrevista.
Dias mais tarde, frustrado por não haverem gravações da magnífica voz de Jorge Chaminé, propus-lhe eu voltar a sua casa para o gravar cantando algumas das árias do seu repertório.
Na data combinada, volto ao seu domicílio e sou apresentado a sua esposa, a pianista Marie-Françoise Bucquet, que o acompanha em todas as suas digressões pela França, e não só!
Acompanhado ao piano por sua esposa
gravámos nesse dia uma série de árias e outras baladas de que ele é exímio
Não sei quantos trechos gravámos nessa tarde, mas ainda hoje os tenho aqui em em minha casa, a dois metros de onde neste momento me encontro relatando esta minha inesquecível reminiscência, em duas cassetes-áudio, ali na minha estante, mesmo em frente dos meus olhos!
Não estou absolutamente certo, mas creio que essas gravações da voz de Jorge Chaminé foram as primeiras a irem para o ar numa rádio. Certamente que, se prévias gravações tivessem sido feitas, ele me as teria proposto!
Mais tarde Jorge Chaminé vem aos estúdios da Alfa, para passar na minha emissão. Então, tive o grande prazer de fazer escutar ao nosso auditório essa grande voz que, para mim e para a Rádio Alfa e seus ouvintes, era então inteiramente desconhecida!
Fi-la conhecer aos portugueses, assim como a muitos franceses que gostavam de escutar a minha emissão, pelo facto de eu passar continuamente no meu programa, cantigas de Amália Rodrigues, essa outra Voz única, tão apreciada pelos franceses!
Jorge Chaminé tinha um timbre voz belíssimo para falar na rádio. Um dia peço-lhe para ele gravar as horas para os sinais horários da Alfa. Ele aceitou e fizemos essa gravação com a sua soberba voz dizendo:
- "São 14 horas"
E todas as outras horas dos meus dias nessa rádio que tanto amei e amo!
Também fiz a mesma proposta à Marie Myriam. Ela aceitou!
A pessoa que então fazia as grelhas dessa rádio, decidiu utilizar a voz da Marie Myriam, dizendo que preferia uma voz feminina!
O tempo foi passando...
Um dia tive de deixar a Alfa pelo facto de haverem muitas dunas de areia muito perto. Dunas que me lembravam o meu saudoso Deserto do Sinai...
Eu usava lentes de contacto e a poeira secava-me as ditas lentes e causavam-me queratites umas atrás das outras.
A Medicina do Trabalhoordenou-me que eu deixasse o meu trabalho, o meu ganha-pão, o meu grande amor, pois que, caso contrário, eu ficaria cego para o resto da minha vida!
Com um indescritível pesar, uma certa tarde, deixei para trás essa rádio que eu e mais uns amigos tínhamos fundado, à qual eu tinha dado todo o meu grande amor e desejo sincero de dar à comunidade portuguesa em França uma rádio nossa, para que eles não esquecessem a sua língua materna, e a transmitissem à sua descendência...Ao afastar-me, olhei para trás, fixei longamente esse belo edifício onde ela ainda se encontra instalada e, através das minhas lágrimas de despedida, jurei-lhe:
"Ainda um dia nos voltaremos a encontrar!..."
E lá segui o meu caminho...
Doze anos depois, após todos esses anos de tanta amargura e frequentes obsessões suicidárias, fui visitar a nossa ALFA e encontrei todos os meus amigos e colegas de braços abertos
incluindo os do Fernando Lopes, que me abriram um microfone, o da Ana Bela.
Enfim, eu pude de novo sentar-me em frente dum microfone e dizer:
" É tão bom estarmos de novo juntos!"
Moralidade da história:
Quando eu trabalhava na Alfa e tinha um programa muito apreciado por quase toda a gente, recebia todos os dias dezenas e dezenas de cartas, de "dossiers de presse", de telefonemas!
Tinha todos os cantantes sempre à minha espera...
Um deles, porém, que começou a sua carreira comigo na Bica e Copo de Água, que agora anda por aí a fazer todos os Zenites, quando lhe telefonei - há dias - e lhe pronunciei o meu nome, ele já não se lembrava quem era o Rogério do Carmo!
Talvez, pela mesma razão, desde o dia que deixei a Alfa, nunca mais tive uma carta, um telefonema, fosse de quem fosse, fosse donde fosse. Mesmo de colegas a quem tanto quero!
Entre os muitos que nunca mais me telefonaria, estava o Jorge Chaminé!
Ele, que tinha o meu número de telefone pessoal!
Ele, que várias vezes lhe telefonei e deixei mensagens no seu atendedor de chamadas, às quais nunca me foi dado um único respeitável retorno!
Isso doeu-me profundamente! Além de muito admirar a bela voz desse grande barítono português, o estimava muito sinceramente, sempre sob o jugo do seu inacessível charme!
Apenas uma vez tive uma chamada duma ex-jornalista da Alfa, que me disse ter visto o Jorge Chaminé! Que ele andava muito preocupado comigo e a minha sorte.!
Que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para me ajudar na minha desdita!
A minha resposta a essa jornalista foi:
- A primeira coisa que o Jorge Chaminé pode, e ainda podia fazer por mim, seria telefonar-me!
Como ele o fazia no passado, quando tinha um concerto qualquer, algures em Paris, ou arredores, a anunciar!
Fim da história:
O tempo passou!
Jorge Chaminé perdeu a sua bela cabeleira negra
e eu perdi todas as minhas muitas ilusões e a grande fé que sempre tive na humanidade!
Mesmo assim, escutem Jorge Chaminé e a sua bela voz que entra em nós para nos subjugar!
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