jeudi 2 juillet 2009

Frémito

No claustro das sombras ogivais
Minhas mãos procuravam cegamente
O calor das tuas formas sensuais
Róseos botões abertos entumecidos
A sulcarem a brancura do teu peito
Desabrochar de libidinosas bacanais
Revelação da tua intimidade jardim
Dos teus mais recônditos segredos
Pétalas de veludo e de jasmim
A queimarem a maciesa dos meus dedos
A endoidarem loucamente meus sentidos!

Teus olhos incêndios por extinguir
Fogo incandescente fogo crematório
Onde pecador me queria redimir
Fogo onde busco punição o meu castigo
Nesse teu corpo todo aceso em purgatório
Na rubra labereda de um ritual antigo!

De encontro àquela árvore secular
Na noite que lentamente nos fugia
Sentia teu corpo o meu aprisionar!
Teu corpo contra o meu crescia crescia
Parecendo querer meu segredo penetrar!
E o meu num frémito todo se reabria!

Tua voz grunhidos em selva renascidos
Acariciava o vibrar dos meus timpanos
Emprenhave os óvulos dos meus ouvidos!
Minhas pálpebras descidas para sentir
O afago do teu bafo lufada que me lambia!
Minhas narinas se dilatavam a capturar
O odor do teu hálito do teu corpo em fusão!
Minhas mãos ávidas no teu corpo a rastejar
Em busca da tua insígnia do teu brasão!

Meu corpo faminto presa fácil de teu cio
Fragrância do meu desejo feito ardor
Boca mordiscando teu corpo em desvario
Viagem ao fundo do inferno bigornas que sustentam
Descidas respresas barragens que rebentam
Longos canais por mim nunca navegados!
Irrompe o fogoso garanhão latejante devastador
Lingua de fogo na fogueira do pavio
Fronteiras abertas passaportes carimbados!

Virei-me para ver a paisagem que tu vias
Frugal roçar de folhas nesse amanhecer
Saliva escorrendo espada em riste rosa em matagal
Bandarilha em toiro tresmalhado quase virgem!
Um gemido misto de dor e de gozo canibais!
Teu arado rasgando – meu partrimónio me invadias!
Pudores viris sucumbindo em súbita vertigem
Louco desfraldar dos instintos ancestrais!

Um derradeiro estertor um urro triunfal!
Ou uivo dolorido de besta ferida em agonia?
Rio caudaloso jorrando em vulcânico lamaçal
Tromba recolhendo aos contrafundos da sua via
Archote reduzido a cinzas apagadas num jornal
Alvorocer sem neblinas sem o canto da cotovia
Passos se afastando sem um aceno na aurora boreal!

Cântaro que a água me trouxe a água me levou
Água sempre crescente que nenhuma sede me matou!



Rogério do Carmo
Villejuif, 19/6/1986

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